"A Brisa do Oriente" (Vol. 1 e 2) de Paloma Sánchez-Garnica [Opinião Literária]
Título: A Brisa do Oriente (Volume 1 e Volume 2)
Autora: Paloma
Sánchez-Garnica
Editora: Saída de
Emergência
Sinopse:
Volume 1: Em 1204, acompanhando o seu abade, Umberto de
Quéribus, um jovem monge de Cister, inicia uma viagem que o levará a
Constantinopla. A partir desse momento, arrastado para perigos e situações
extremas, em que perde a candura infantil, a sua vida muda completamente.
Durante a viagem de regresso ao mosteiro, conhece a insensatez da guerra, a
violência desmedida e a imoralidade da avareza. Toma igualmente consciência das
verdadeiras consequências da obediência cega e da enorme incerteza na destrinça
do que está bem e do que está mal, imerso numa luta constante entre o que lhe
ensinaram e o que de facto sente. É atingido pela flecha do amor indomável e
adolescente e descobre o desassossego provocado pelo sentimento de culpa, o
ferrão do ressentimento e, sobretudo, o sentido mais profundo da amizade,
encarnada no cavaleiro Esteban de Clary e no monge Roger, com quem aprenderá o
significado da cultura, a importância do que se escreve e a influência e o
poder do copista ao manejar, alterar ou mudar completamente o texto escrito. A
sua aproximação inconsciente à heresia acaba por colocá-lo em perigo, ao ponto
de se ver obrigado a abandonar o mosteiro depois de ver a catástrofe semeada à
sua volta.
Volume
2: Alguns anos depois, Umberto de Quéribus
reencontra o seu amigo, o cavaleiro Esteban de Clary, em Cinca. Na sua busca
pelo conhecimento de outras doutrinas e pelas suas próprias origens, Umberto
vai deparar-se com perigos constantes e situações arriscadas. Que segredo
guardam os monges acerca da identidade da sua mãe? Que é feito de Constanza, o
amor da sua vida, a mulher que o fez pôr em causa toda a sua crença
eclesiástica? Em 1204, acompanhando o seu abade, Umberto de Quéribus, um jovem
monge de Cister, inicia uma viagem que o levará a Constantinopla. A partir
desse momento, arrastado para perigos e situações extremas, em que perde a
candura infantil, a sua vida muda completamente. Durante a viagem de regresso
ao mosteiro, conhece a insensatez da guerra, a violência desmedida e a
imoralidade da avareza. Questiona a obediência cega e luta constantemente com a
dualidade do que lhe ensinaram e o que sente. Aprende a amar e o sentido mais
profundo da amizade. A sua aproximação inconsciente à heresia acaba por
colocá-lo em perigo, ao ponto de se ver obrigado a abandonar o mosteiro depois
de ver a catástrofe semeada à sua volta.
Opinião:
Esta
obra, dividida em dois volumes de soberba qualidade, narra a história de Umberto de Quéribus, um jovem monge cujo percurso de vida
semeado de perigos e inesperadas reviravoltas forçam o seu crescimento e a
perda da sua candura infantil. A autora promove constantemente o contacto de
Umberto com situações extremas que lhe permitem analisar o sentido da sua vida
e põem em causa a manutenção da sua fé.
Como pano de fundo de toda a
narrativa, destaca-se uma notável caracterização da Europa Medieval do séc.
XIII, uma época delineada pela violência e intolerância religiosa. A origem da
Inquisição, descrita no segundo volume, fortalece ainda mais esta perceção, na
medida em que o clero aumenta o seu poder sobre a vida e a morte dos seus
súbditos. Toda a trama é descrita de uma forma intensa, empolgante e sem
pudores desnecessários, retratando fielmente uma época negra da História da
Humanidade.
Ao
longo desta narrativa encontra-se patente um paralelismo entre os membros do clero
que promovem este poder desmedido, não apresentando quaisquer valores éticos ou
morais e potenciando atos hediondos, e aqueles que ousam questionar estas
atitudes em prol do que consideram correto. A desilusão de Umberto perante as
ações dos que se consideram os “verdadeiros cristãos” e da crueldade, ganância
e insensatez da igreja católica, fornece-lhe uma nova perceção do mundo que o
rodeia. Assim, Umberto, ao longo da sua jornada, interroga-se acerca da
legitimidade de perseguir crenças distintas – ditos “hereges” – quando os seus
detentores apenas pretendem viver uma vida pacífica e muitas vezes mais moral
do que o próprio clero. Neste sentido, surge uma questão bastante atual: será
que crenças diferentes não poderão coexistir pacificamente? Tudo isto facilita
o distanciamento de Umberto da obediência cega e dos ensinamentos rígidos que
apresenta no primeiro volume, culminando numa consciência mais abrangente da
sociedade em que vive.
A
autora é também exímia na criação de personagens com as quais se torna fácil
desenvolver uma relação, na qual sofremos com as injustiças e as perseguições
aos inocentes, perpetradas em prol do fanatismo religioso, e rejubilamos quando
os planos dos vilões fracassam. De igual modo, esta obra possui o típico
romance impossível mas com uma pureza que nos faz torcer por um final feliz. No
fundo, esta é uma narrativa acerca, não apenas da capacidade de ultrapassar as
injustiças de uma era, mas principalmente do sentido profundo da amizade e do
amor.
O desfecho foi talvez um pouco previsível e algo banal, pois
considero que o resto do argumento teria potencial para um final com maior
impacto. Contudo, não deixa de constituir um romance histórico verdadeiramente
notável, cuja leitura recomendo vivamente.
0 comentários: