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sábado, 3 de novembro de 2012

"A Brisa do Oriente" (Vol. 1 e 2) de Paloma Sánchez-Garnica [Opinião Literária]

 

Título: A Brisa do Oriente (Volume 1 e Volume 2)

Autora: Paloma Sánchez-Garnica

Editora: Saída de Emergência

Sinopse:

Volume 1: Em 1204, acompanhando o seu abade, Umberto de Quéribus, um jovem monge de Cister, inicia uma viagem que o levará a Constantinopla. A partir desse momento, arrastado para perigos e situações extremas, em que perde a candura infantil, a sua vida muda completamente. Durante a viagem de regresso ao mosteiro, conhece a insensatez da guerra, a violência desmedida e a imoralidade da avareza. Toma igualmente consciência das verdadeiras consequências da obediência cega e da enorme incerteza na destrinça do que está bem e do que está mal, imerso numa luta constante entre o que lhe ensinaram e o que de facto sente. É atingido pela flecha do amor indomável e adolescente e descobre o desassossego provocado pelo sentimento de culpa, o ferrão do ressentimento e, sobretudo, o sentido mais profundo da amizade, encarnada no cavaleiro Esteban de Clary e no monge Roger, com quem aprenderá o significado da cultura, a importância do que se escreve e a influência e o poder do copista ao manejar, alterar ou mudar completamente o texto escrito. A sua aproximação inconsciente à heresia acaba por colocá-lo em perigo, ao ponto de se ver obrigado a abandonar o mosteiro depois de ver a catástrofe semeada à sua volta.

Volume 2: Alguns anos depois, Umberto de Quéribus reencontra o seu amigo, o cavaleiro Esteban de Clary, em Cinca. Na sua busca pelo conhecimento de outras doutrinas e pelas suas próprias origens, Umberto vai deparar-se com perigos constantes e situações arriscadas. Que segredo guardam os monges acerca da identidade da sua mãe? Que é feito de Constanza, o amor da sua vida, a mulher que o fez pôr em causa toda a sua crença eclesiástica? Em 1204, acompanhando o seu abade, Umberto de Quéribus, um jovem monge de Cister, inicia uma viagem que o levará a Constantinopla. A partir desse momento, arrastado para perigos e situações extremas, em que perde a candura infantil, a sua vida muda completamente. Durante a viagem de regresso ao mosteiro, conhece a insensatez da guerra, a violência desmedida e a imoralidade da avareza. Questiona a obediência cega e luta constantemente com a dualidade do que lhe ensinaram e o que sente. Aprende a amar e o sentido mais profundo da amizade. A sua aproximação inconsciente à heresia acaba por colocá-lo em perigo, ao ponto de se ver obrigado a abandonar o mosteiro depois de ver a catástrofe semeada à sua volta.

Opinião:

Esta obra, dividida em dois volumes de soberba qualidade, narra a história de Umberto de Quéribus, um jovem monge cujo percurso de vida semeado de perigos e inesperadas reviravoltas forçam o seu crescimento e a perda da sua candura infantil. A autora promove constantemente o contacto de Umberto com situações extremas que lhe permitem analisar o sentido da sua vida e põem em causa a manutenção da sua fé.

Como pano de fundo de toda a narrativa, destaca-se uma notável caracterização da Europa Medieval do séc. XIII, uma época delineada pela violência e intolerância religiosa. A origem da Inquisição, descrita no segundo volume, fortalece ainda mais esta perceção, na medida em que o clero aumenta o seu poder sobre a vida e a morte dos seus súbditos. Toda a trama é descrita de uma forma intensa, empolgante e sem pudores desnecessários, retratando fielmente uma época negra da História da Humanidade.

Ao longo desta narrativa encontra-se patente um paralelismo entre os membros do clero que promovem este poder desmedido, não apresentando quaisquer valores éticos ou morais e potenciando atos hediondos, e aqueles que ousam questionar estas atitudes em prol do que consideram correto. A desilusão de Umberto perante as ações dos que se consideram os “verdadeiros cristãos” e da crueldade, ganância e insensatez da igreja católica, fornece-lhe uma nova perceção do mundo que o rodeia. Assim, Umberto, ao longo da sua jornada, interroga-se acerca da legitimidade de perseguir crenças distintas – ditos “hereges” – quando os seus detentores apenas pretendem viver uma vida pacífica e muitas vezes mais moral do que o próprio clero. Neste sentido, surge uma questão bastante atual: será que crenças diferentes não poderão coexistir pacificamente? Tudo isto facilita o distanciamento de Umberto da obediência cega e dos ensinamentos rígidos que apresenta no primeiro volume, culminando numa consciência mais abrangente da sociedade em que vive.

A autora é também exímia na criação de personagens com as quais se torna fácil desenvolver uma relação, na qual sofremos com as injustiças e as perseguições aos inocentes, perpetradas em prol do fanatismo religioso, e rejubilamos quando os planos dos vilões fracassam. De igual modo, esta obra possui o típico romance impossível mas com uma pureza que nos faz torcer por um final feliz. No fundo, esta é uma narrativa acerca, não apenas da capacidade de ultrapassar as injustiças de uma era, mas principalmente do sentido profundo da amizade e do amor.

O desfecho foi talvez um pouco previsível e algo banal, pois considero que o resto do argumento teria potencial para um final com maior impacto. Contudo, não deixa de constituir um romance histórico verdadeiramente notável, cuja leitura recomendo vivamente.



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