"O Pacto - O Crime de Ter Nascido" de Gemma Malley [Opinião Literária]
Título: O Pacto – O Crime de Ter Nascido
Autora: Gemma
Malley
Editora: Editorial
Presença
Coleção: The
Declaration (nº1) / Noites Claras (nº1)
Sinopse:
Planeta
Terra, ano 2140. A ciência oferece aos humanos a possibilidade de se tornarem
imortais, mas, dada a escassez de recursos, a imortalidade só é garantida à
custa da renúncia à descendência. O Pacto é o compromisso que sela tal decisão.
Quebrá-lo é ir contra as leis da Natureza, e as consequências são aterradoras.
Anna conhece-as demasiado bem. É uma Excedente, uma criança que não deveria ter
nascido. Desde bebé que está em Grange Hall, a instituição que prepara todos os
Excedentes para o terrível destino que os espera no mundo exterior. Mas um dia
recebe a visita de Peter, um jovem Excedente que vem revolucionar para sempre a
sua visão de si própria e do mundo…
Opinião:
Apesar de
representar uma estória distópica dirigida a um público juvenil, este livro
encerra um enredo bem delineado, capaz de entreter os mais jovens e fornecer aos
adultos uma narrativa complexa, profunda e reflexiva. Através de uma premissa
bastante atual: a assustadora visão de uma sociedade futura em que os problemas
ambientais dominam a vida de todos, torna-se uma espécie de ensaio algo filosófico
acerca do medo da morte e do que abdicaríamos pela imortalidade.
A narrativa
inicia-se no ano de 2140, em Grange Hall, uma instituição que praticamente
opera como campo de concentração para crianças nascidas fora do Pacto. Num
mundo em que os recursos naturais estão prestes a esgotar, ter um filho constitui
um crime gravíssimo, um ato egoísta na medida em que estes “Excedentes” nascem
apenas para retirar o lugar no mundo que apenas se destina aos “Legítimos” –
aqueles que tomam a medicação da Longevidade destinada a afastar a morte. Toda
esta mentalidade é verdadeiramente repugnante. A isto junta-se o relato de
Anna, uma Excedente em Grange Hall, que descreve as revoltantes injustiças e a
falta de humanidade e dignidade que as paredes deste local encerram.
Anna é uma
excelente protagonista, uma vez que podemos constatar a sua grande evolução à
medida que a estória evolui. Inicialmente, graças à lavagem cerebral de que foi
vítima, o seu único objetivo de vida é apenas se tornar “Útil” – basicamente um
eufemismo para escravo dos “Legítimos” – de forma a mitigar a terrível afronta
que cometeu – o seu nascimento! Contudo, quando surge Peter, um jovem misterioso
e determinado, a estória rapidamente adquire outro fôlego, revelando uma
conspiração intrincada e complexa. A relação entre Anna e Peter transparece alguns
lugares comuns normalmente associados ao típico romance na literatura juvenil,
o que a torna um pouco monótona.
Para além de
abordar o eterno dilema – Ciência vs. Natureza – e as suas possíveis consequências
alarmantes na sociedade atual e futura, esta obra levanta questões pertinentes
acerca da verdadeira essência do ser humano em situações de grande adversidade.
Fica no ar a pergunta: Será legítimo escolher o aliciante poder da imortalidade
em detrimento da possibilidade de ter descendência? Será a eternidade capaz de
colmatar a ausência do riso de uma criança, da novidade e frescura da
juventude?
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