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quarta-feira, 31 de julho de 2013

"O Jogo do Anjo" de Carlos Ruiz Zafón [Opinião Literária]

Título: O Jogo do Anjo
Autor: Carlos Ruiz Záfon
Editora: Dom Quixote
Coleção: O Cemitério dos Livros Esquecidos (nº2)

Sinopse:
Na Barcelona turbulenta dos anos 20, um jovem escritor obcecado com um amor impossível recebe de um misterioso editor a proposta para escrever um livro como nunca existiu a troco de uma fortuna e, talvez, muito mais. 
Com deslumbrante estilo e impecável precisão narrativa, o autor de A Sombra do Vento transporta-nos de novo para a Barcelona do Cemitério dos Livros Esquecidos, para nos oferecer uma aventura de intriga, romance e tragédia, através de um labirinto de segredos onde o fascínio pelos livros, a paixão e a amizade se conjugam num relato magistral.

Opinião:
Com este volume regressei à Barcelona nas primeiras décadas do século XX, uma cidade tenebrosa, capaz de uma crueldade imensa, como se do sofrimento se alimentasse. Regressei às suas ruas labirínticas, aos segredos que encerra por detrás de fachadas destruídas, e ao inolvidável Cemitério dos Livros Esquecidos. Estabelecido como uma prequela de A Sombra do Vento, reencontramos nestas páginas a família Sempere e a sua livraria enaltecendo a dedicação e paixão aos livros. Afinal, este é sobretudo um livro sobre o poder e a magia da literatura.
O protagonista, David Martín, é um jovem escritor amargurado que, após diversos insucessos no mundo editorial, é incumbido por um enigmático editor, mediante uma extraordinária quantia monetária, de produzir um livro capaz de fundar uma nova religião, enquanto se debate com um eterno e malogrado amor. Pelo meio surge Isabella, uma espécie de discípula na área da escrita e sua ajudante, uma jovem irreverente, determinada e inteligente. A amizade improvável entre ambos foi o que mais me encantou nesta obra, devido ao genuíno carinho mútuo que demonstram, apesar de todas as discussões e tiradas sarcásticas que atiram constantemente um ao outro.
O autor não foge ao ambiente gótico retratado no volume anterior, elevando-o a níveis ainda mais dramáticos. A atmosfera de terror perpetua-se à medida que as mortes, desgraças e revelações nefastas surgem em catadupa, num ritmo vertiginoso que apela leitor que abandone a realidade e se sujeite ao pesadelo. Este clima de paranoia e maldição é avassalador, impossível de ser ignorado. Por diversas vezes senti as emoções à flor da pele, principalmente em virtude da escrita notoriamente cinematográfica de Zafón. É um verdadeiro encanto para todos os sentidos, na medida em que adota uma narrativa melodiosa, soberba, quase poética!
Ainda assim, o desenlace misterioso, praticamente em aberto, poderá não agradar a muitos leitores. Fiquei um pouco frustrada pelo final abrupto mas ao mesmo tempo encantada por todas as possibilidades que encerra. Nesse aspeto, este livro é genial em fomentar a discussão e análise acerca do significado desta estória, aberta a interpretações.
Contrariamente ao que esperava, este segundo volume encantou-me mais que o anterior, talvez por me ter apegado mais às personagens, de maneira que vivi, sofri e rejubilei com elas. Mais uma vez o autor prova com esta obra extraordinária que as palavras têm poder, que influenciam profundamente as nossas vidas, como que se contivessem verdadeira magia! 

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