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quinta-feira, 18 de julho de 2013

"Soberba Escuridão" de Andreia Ferreira [Opinião Literária]

Título: Soberba Escuridão
Autora: Andreia Ferreira
Editora: Alfarroba
Coleção: Trilogia Soberba (nº1)

Sinopse:
Quando o relógio pisca as doze horas intermitentes, Carla recebe no seu quarto uma visita indesejada. A partir daí, todo o seu mundo desmorona e a solidão e o medo encarregam-se de a arrastar para um estado deprimente que só um desconhecido parece compreender. Cega de paixão, nega as evidências de que o seu novo amor é mais do que um rosto angelical. Ele esconde segredos que a levarão para perigos que parecem emergir das profundezas do inferno.

Opinião:
Situada em território português, esta obra traz o género sobrenatural a Braga, explorando uma narrativa juvenil repleta de fantasia e ação. A escolha de um cenário tão familiar é louvável e permite uma ligação imediata do leitor à estória.
No entanto, essa empatia foi imediatamente quebrada com a personagem principal. Carla, uma rapariga que inicialmente até me pareceu inteligente e com espírito crítico, rapidamente se torna numa jovem fragilizada, imatura, moldada à vontade de um rapaz que acaba de conhecer. A relação entre ambos é demasiado instantânea, fugaz, sem grande encanto. Destaco, porém, a elegância dos momentos íntimos retratados, com bom gosto e sem pudores excessivos.
Um ponto que provavelmente agradar-me-ia se tivesse sido melhor explorado seria o medo da loucura demonstrado por Carla quando começa a lidar com os eventos sobrenaturais. A sua dificuldade em distinguir a realidade daquilo que a sua imaginação é capaz de produzir constitui uma linha de enredo que poderia ter sido melhor aproveitada.
Caael, por sua vez, é o estereótipo dos protagonistas masculinos nestas estórias: perfeito mas misterioso, capaz de uma ternura imensa mas cujas verdadeiras intenções estão escondidas. Demasiado escondidas, aliás. No fundo, fiquei sem saber praticamente nada sobre esta personagem, o seu desenvolvimento de carácter foi nulo e não me cativou minimamente.
Ana é a personagem redentora nesta obra. É explosiva, engraçada, com uma personalidade bem delineada. Relativamente às restantes personagens secundárias, deveriam ter sido melhor exploradas a nível psicológico. A autora apenas descreve em traços gerais as suas personalidades, sempre pela visão de Carla e raramente pelas próprias ações das personagens.
Inicialmente, o enredo foi pouco estimulante, na medida em que a descrição do quotidiano de Carla é demasiado exaustiva. Porém, à medida que a estória avança torna-se mais empolgante e senti-me motivada para descobrir todo o mistério associado a Caael. No final, a autora conseguiu conjugar bem os diversos elementos da estória, elaborando um romance sobrenatural com uma boa dose de ação e terror. Apreciei bastante a forma como a autora não se coibiu de ser explícita e descritiva nas cenas mais cruéis do desenlace final. Admiro os autores com essa capacidade de torturar e danificar as personagens nas suas estórias, as suas criações.
A escrita é bastante acessível, coerente com um estilo juvenil que aprecio bastante. Uma estória simples, sem grandes pretensões, cujo potencial espero que seja melhor aproveitado nos próximos volumes.

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