"Soberba Escuridão" de Andreia Ferreira [Opinião Literária]
Título: Soberba Escuridão
Autora: Andreia
Ferreira
Editora: Alfarroba
Coleção: Trilogia Soberba
(nº1)
Sinopse:
Quando o relógio pisca as doze horas
intermitentes, Carla recebe no seu quarto uma visita indesejada. A partir daí,
todo o seu mundo desmorona e a solidão e o medo encarregam-se de a arrastar
para um estado deprimente que só um desconhecido parece compreender. Cega de
paixão, nega as evidências de que o seu novo amor é mais do que um rosto
angelical. Ele esconde segredos que a levarão para perigos que parecem emergir
das profundezas do inferno.
Opinião:
Situada em
território português, esta obra traz o género sobrenatural a Braga, explorando
uma narrativa juvenil repleta de fantasia e ação. A escolha de um cenário tão
familiar é louvável e permite uma ligação imediata do leitor à estória.
No entanto,
essa empatia foi imediatamente quebrada com a personagem principal. Carla, uma
rapariga que inicialmente até me pareceu inteligente e com espírito crítico,
rapidamente se torna numa jovem fragilizada, imatura, moldada à vontade de um
rapaz que acaba de conhecer. A relação entre ambos é demasiado instantânea, fugaz,
sem grande encanto. Destaco, porém, a elegância dos momentos íntimos retratados,
com bom gosto e sem pudores excessivos.
Um ponto que
provavelmente agradar-me-ia se tivesse sido melhor explorado seria o medo da
loucura demonstrado por Carla quando começa a lidar com os eventos sobrenaturais.
A sua dificuldade em distinguir a realidade daquilo que a sua imaginação é
capaz de produzir constitui uma linha de enredo que poderia ter sido melhor
aproveitada.
Caael, por
sua vez, é o estereótipo dos protagonistas masculinos nestas estórias: perfeito
mas misterioso, capaz de uma ternura imensa mas cujas verdadeiras intenções
estão escondidas. Demasiado escondidas, aliás. No fundo, fiquei sem saber
praticamente nada sobre esta personagem, o seu desenvolvimento de carácter foi
nulo e não me cativou minimamente.
Ana é a
personagem redentora nesta obra. É explosiva, engraçada, com uma personalidade
bem delineada. Relativamente às restantes personagens secundárias, deveriam ter
sido melhor exploradas a nível psicológico. A autora apenas descreve em traços
gerais as suas personalidades, sempre pela visão de Carla e raramente pelas
próprias ações das personagens.
Inicialmente,
o enredo foi pouco estimulante, na medida em que a descrição do quotidiano de
Carla é demasiado exaustiva. Porém, à medida que a estória avança torna-se mais
empolgante e senti-me motivada para descobrir todo o mistério associado a
Caael. No final, a autora conseguiu conjugar bem os diversos elementos da
estória, elaborando um romance sobrenatural com uma boa dose de ação e terror.
Apreciei bastante a forma como a autora não se coibiu de ser explícita e descritiva
nas cenas mais cruéis do desenlace final. Admiro os autores com essa capacidade
de torturar e danificar as personagens nas suas estórias, as suas criações.
A escrita é
bastante acessível, coerente com um estilo juvenil que aprecio bastante. Uma
estória simples, sem grandes pretensões, cujo potencial espero que seja melhor
aproveitado nos próximos volumes.
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