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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

"Compaixão" de Jodi Picoult [Opinião Literária]

Título: Compaixão
Autora: Jodi Picoult
Editora: Civilização Editora

Sinopse:
Se o amor da sua vida lhe pedisse ajuda para morrer, que faria? O comandante da polícia de uma pequena cidade de Massachusetts, Cameron McDonald, faz a detenção mais difícil da sua vida quando o seu primo Jamie lhe confessa ter matado a mulher, que sofria de uma doença terminal, por compaixão. Agora, um intenso julgamento por homicídio coloca a cidade em alvoroço e vem perturbar um casamento estável: Cameron, colaborando na acusação contra Jamie, vê-se, de repente, em confronto com a sua mulher, Allie – fascinada pela ideia de um homem amar tanto a mulher a ponto de lhe conceder todos os desejos, até mesmo o de acabar com a vida dela. E quando uma atracção inexplicável leva a uma traição chocante, Allie vê-se confrontada com as questões sentimentais mais difíceis: quando é que o amor ultrapassa os limites da obrigação moral? E o que é que significa amar verdadeiramente alguém?

Opinião:
A premissa desta obra é fascinante. Como qualquer estória criada por Jodi Picoult, a temática abordada é atual, pujante e polémico. A eutanásia é provavelmente uma das grandes questões da sociedade moderna, em que o prolongamento da vida através dos avanços na medicina não se traduz necessariamente num aumento da qualidade de vida. Como futura profissional de saúde, não é eticamente correto colocar esta questão. Como ser humano, é impossível não me questionar acerca do sofrimento dos doentes terminais, do desespero que leva alguém a considerar a morte como um alívio. Mas seriamos capaz de tomar esta decisão por alguém que amamos? Claramente um tópico difícil, para o qual a autora demonstra diversas perspetivas, sem nunca emitir um juízo final, instigando uma reflexão profunda acerca dos limites do amor e do valor da dignidade humana.
Este assunto é retratado pela visão de Jamie, um homem perdidamente apaixonado pela esposa em estado terminal, que cede ao seu desejo e acaba com o seu sofrimento. A caracterização desta personagem é cativante, sendo apresentado como um homem devastado pela dor perante a morte da mulher. Inicialmente acreditando que tomou a melhor decisão, Jamie percorrerá um percurso intenso na sua mente para finalmente aceitar que talvez o amor não justifique tudo. Ainda que discordemos com a perspetiva de Jamie, as questões levantadas ao longo da estória levarão o leitor a refletir sobre os seus próprios valores e convicções. Porém, estranhamente, nunca obtemos a perspetiva de Maggie. Penso que teria sido uma abordagem mais completa se tivesse incluído o ponto de vista da doente terminal.
Infelizmente, esta temática promissora é desperdiçada num enredo secundário (e que, no final, acaba por dominar toda a narrativa) sobre um casamento que vai ser posto à prova pela sombra do adultério. Esta até poderia ter sido uma visão interessante, honesta e crua das dificuldades inerentes a um casamento, se as personagens não fossem tão absurdamente detestáveis! Cam é provavelmente o pior pesadelo de qualquer esposa: mentiroso, condescendente, egoísta. Mesmo antes de começar o seu caso extramarital com Mia, já sentia pena de Allie pelo simples facto de ter que o aturar. Além disso, a maneira como a relação entre Cam e Mia começa é simplesmente estranha e pouco credível. Embora a autora tente incluir alguns momentos redentores para Cam, não consegui de maneira nenhuma apreciar nem um bocadinho desta personagem.
E quanto a Allie? Basicamente passei o livro todo à espera que esta mulher deixasse de ser tão ingénua, tão passiva, tão solícita a cumprir os desejos do marido. Quando finalmente descobre a sua traição sofre uma transformação drástica e finalmente pensei que veria uma mulher forte, independente, renascida do sofrimento que o casamento lhe impôs. Contudo, esta mudança dura praticamente dois dias e volta tudo ao início. Foi uma desilusão completa.
Talvez a intenção da autora fosse estabelecer um paralelismo entre a relação de Jaime e Maggie, tão perfeita mas que culmina em desgraça, e o casamento de Allie e Cam que, apesar das dificuldades enfrentadas, mantém-se intacto. No entanto, foi simplesmente frustrante observar certas personagens com atitudes horrendas a safarem-se facilmente e sem grandes consequências. Se Jodi Picoult tencionava gerar alguma simpatia no leitor falhou redondamente.
A sua escrita, porém, mantém-se dinâmica, acessível e fluída, com a exceção dos inúmeros flashbacks relacionados com a Escócia sem grande relevância e que parecem inseridos no meio dos capítulos apenas para encher as páginas.
No fundo, a autora tentou construir duas estórias demasiado complexas para serem trabalhadas em simultâneo, acabando por diluir o impacto da temática inicial – a eutanásia – em virtude de um drama sem grande interesse. Uma prestação fraca de uma autora que já comprovou ser bem melhor.

13 comentários:

  1. Também fiquei muito desiludida com este livro...O desenvolvimento é lento, as personagens, lá está, são um bocado irritantes e tanto quanto me lembro o final é um bocado previsível...Gosto desta autora, mas os últimos que tenho lido dela revelaram-se fracos...

    cumps

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    1. Quais foram os últimos que leste dela? Por curiosidade :)

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    2. No Seu Mundo, Frágil e este aqui...Entretanto já saíram mais, mas ainda não li. Eles são lançados a tanta velocidade que o meu orçamento não consegue acompanhar -_-

      cumps

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    3. O "No Seu Mundo" já li e até gostei, apesar de não ser dos meus favoritos. O "Frágil" nunca li...
      Sim, é difícil fazer a coleção dos livros dela, não são propriamente baratos. Mas se queres um conselho, compra o "Para a Minha Irmã" ou "Dezanove Minutos", para mim são os melhores :)

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    4. Tenho de comprar o Dezenove minutos...Já o li mas era emprestado. Também acho que esses são os melhores dela juntamente com o em troca de um coração.

      cumps :)

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    5. Nunca li o "Em Troca de um Coração", obrigada pela sugestão :)

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  2. Ainda não li este livro.. mas gosto muito da Jodi.. É pena que este livro não seja tão bom.. :(
    beijinhos*

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    1. Também gosto muito da Jodi, por isso é que a desilusão foi tão grande :(
      Beijinhos*

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  3. Subscrevo a tudo o que disseste. E ele só voltou para a Allie porque a Mia se pôs na alheta -.-''

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    1. Tu bem me avisaste xD
      Sim, basicamente a Mia deu-lhe com os pés e ele volta com umas desculpas esfarrapadas e a Allie engole! A sério, que homem insuportável! Odiei, odiei, odiei-o!

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    2. So did I -.-' E foi a minha estreia com ela

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