"A Espia da Rainha" de Philippa Gregory [Opinião Literária]
Título: A Espia da Rainha
Autora: Philippa
Gregory
Editora: Civilização
Editora
Coleção: A Corte dos
Tudor (nº4)
Sinopse:
No Inverno de 1553, a jovem Hannah, uma judia
de 14 anos, e o pai fogem para Londres perseguidos pela Inquisição Espanhola.
Fixam-se nesta cidade e abrem uma livraria onde Hannah conhece o Lord Robert
Dudley, um aristocrata influente. Dudley apercebe-se de que Hannah tem o dom de
ver o futuro e leva-a para a corte para ser o bobo e espiar as irmãs, rivais e
pretendentes ao trono, Mary Tudor e Elizabeth. Contratada como bobo, mas a
trabalhar como espia, prometida em casamento a um judeu, mas apaixonada por
Lord Robert Dudley, ameaçada pelas leis contra a heresia, traição e feitiçaria,
Hannah tem que escolher entre a vida segura e tranquila de uma pessoa comum, ou
a vida no centro das perigosas intrigas da família real.
Opinião:
Neste volume
somos convidados a visitar novamente a corte dos Tudor – a mais intriguista,
sangrenta e volúvel da história –, desta vez no reinado dos descendentes de
Henrique VIII. Abordando a ascensão ao
trono de Mary e os jogos políticos que tiveram como objetivo colocar a sua irmã
Elizabeth a reinar, Philippa Gregory estabelece um excelente retrato histórico nos
meandros de uma estória ainda mais fictícia que o habitual. Pela primeira vez, o
foco é uma personagem completamente imaginária, que constitui o elo de ligação
entre todos os acontecimentos e intervenientes verídicos.
Contudo, a protagonista,
Hannah, não me convenceu. A sua caracterização é confusa e inconsistente. Tanto
é descrita pela autora como uma jovem forte e espirituosa que deseja acima de
tudo ser independente da autoridade de um homem (algo bastante discrepante para
a época), como no momento seguinte está apaixonada pelo seu superior Robert
Dudley, enquanto rejeita terminantemente envolver-se com o seu noivo Daniel. Ao
longo de toda a obra achei-a imatura, teimosa e por vezes muito egoísta.
No entanto,
a autora compensa com o retrato de Mary Tudor. Conhecida como uma rainha
sangrenta, pela sua obsessão com a fé verdadeira – a católica – que originou a
perseguição e massacre de protestantes, a autora apresenta uma versão mais
compassiva e realista das razões para o seu eventual declínio. Mary é aqui
caracterizada como uma mulher que sofreu toda a sua vida ao ser afastada do
trono e da linhagem real pelo próprio pai, o rei Henrique, e impossibilitada de
visitar a mãe, Catarina de Aragão, no seu leito de morte. Por este motivo, Mary
nunca perdoou a Ana Bolena por seduzir o rei mas, apesar de tudo não projeta este
ódio à sua meia-irmã Elizabeth. Na verdade, a relação entre ambas é o ponto
alto desta obra, um contraste entre duas personalidades distintas e duas
crenças incompatíveis. Elizabeth, claro, é a imagem da sua mãe, uma verdadeira
herdeira da ambição e calculismo dos Bolena. É esta desilusão perante a irmã
mais nova que sempre amou que leva Mary numa espiral de ressentimento e depressão
que condenou para sempre o seu reinado.
O enredo é,
portanto, mais focado na dimensão psicológica de Mary e na vida de Hannah
enquanto espia na corte, o que francamente acabou por se tornar um pouco
entediante. A estória poderia ter sido encurtada e teria sido mais interessante
ter como protagonista Mary do que Hannah. O desenlace final é também previsível
e melodramático, sem grande relevância como romance histórico. Não gostei da
aposta da autora em tornar esta obra ainda mais fictícia do que o habitual,
pois perdeu o encanto dos volumes anteriores. Ainda assim, foi uma leitura que
entreteve e uma aposta segura para quem aprecia as obras de Philippa Gregory.
Deixo, no
final, uma pequena consideração à editora relativamente à tradução dos nomes: ou
os traduzem em todos os volumes de uma série ou não. Não percebo como em alguns
volumes os nomes estão traduzidos diretamente (Elizabeth para Isabel e Mary
para Maria) enquanto neste mantêm o original. Honestamente não sou grande apreciadora
das traduções de nomes mas pelo menos sejam consistentes!
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