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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

"A Espia da Rainha" de Philippa Gregory [Opinião Literária]

Título: A Espia da Rainha
Autora: Philippa Gregory
Editora: Civilização Editora
Coleção: A Corte dos Tudor (nº4)

Sinopse:
No Inverno de 1553, a jovem Hannah, uma judia de 14 anos, e o pai fogem para Londres perseguidos pela Inquisição Espanhola. Fixam-se nesta cidade e abrem uma livraria onde Hannah conhece o Lord Robert Dudley, um aristocrata influente. Dudley apercebe-se de que Hannah tem o dom de ver o futuro e leva-a para a corte para ser o bobo e espiar as irmãs, rivais e pretendentes ao trono, Mary Tudor e Elizabeth. Contratada como bobo, mas a trabalhar como espia, prometida em casamento a um judeu, mas apaixonada por Lord Robert Dudley, ameaçada pelas leis contra a heresia, traição e feitiçaria, Hannah tem que escolher entre a vida segura e tranquila de uma pessoa comum, ou a vida no centro das perigosas intrigas da família real.

Opinião:
Neste volume somos convidados a visitar novamente a corte dos Tudor – a mais intriguista, sangrenta e volúvel da história –, desta vez no reinado dos descendentes de Henrique VIII.  Abordando a ascensão ao trono de Mary e os jogos políticos que tiveram como objetivo colocar a sua irmã Elizabeth a reinar, Philippa Gregory estabelece um excelente retrato histórico nos meandros de uma estória ainda mais fictícia que o habitual. Pela primeira vez, o foco é uma personagem completamente imaginária, que constitui o elo de ligação entre todos os acontecimentos e intervenientes verídicos.   
Contudo, a protagonista, Hannah, não me convenceu. A sua caracterização é confusa e inconsistente. Tanto é descrita pela autora como uma jovem forte e espirituosa que deseja acima de tudo ser independente da autoridade de um homem (algo bastante discrepante para a época), como no momento seguinte está apaixonada pelo seu superior Robert Dudley, enquanto rejeita terminantemente envolver-se com o seu noivo Daniel. Ao longo de toda a obra achei-a imatura, teimosa e por vezes muito egoísta.
No entanto, a autora compensa com o retrato de Mary Tudor. Conhecida como uma rainha sangrenta, pela sua obsessão com a fé verdadeira – a católica – que originou a perseguição e massacre de protestantes, a autora apresenta uma versão mais compassiva e realista das razões para o seu eventual declínio. Mary é aqui caracterizada como uma mulher que sofreu toda a sua vida ao ser afastada do trono e da linhagem real pelo próprio pai, o rei Henrique, e impossibilitada de visitar a mãe, Catarina de Aragão, no seu leito de morte. Por este motivo, Mary nunca perdoou a Ana Bolena por seduzir o rei mas, apesar de tudo não projeta este ódio à sua meia-irmã Elizabeth. Na verdade, a relação entre ambas é o ponto alto desta obra, um contraste entre duas personalidades distintas e duas crenças incompatíveis. Elizabeth, claro, é a imagem da sua mãe, uma verdadeira herdeira da ambição e calculismo dos Bolena. É esta desilusão perante a irmã mais nova que sempre amou que leva Mary numa espiral de ressentimento e depressão que condenou para sempre o seu reinado.  
O enredo é, portanto, mais focado na dimensão psicológica de Mary e na vida de Hannah enquanto espia na corte, o que francamente acabou por se tornar um pouco entediante. A estória poderia ter sido encurtada e teria sido mais interessante ter como protagonista Mary do que Hannah. O desenlace final é também previsível e melodramático, sem grande relevância como romance histórico. Não gostei da aposta da autora em tornar esta obra ainda mais fictícia do que o habitual, pois perdeu o encanto dos volumes anteriores. Ainda assim, foi uma leitura que entreteve e uma aposta segura para quem aprecia as obras de Philippa Gregory.
Deixo, no final, uma pequena consideração à editora relativamente à tradução dos nomes: ou os traduzem em todos os volumes de uma série ou não. Não percebo como em alguns volumes os nomes estão traduzidos diretamente (Elizabeth para Isabel e Mary para Maria) enquanto neste mantêm o original. Honestamente não sou grande apreciadora das traduções de nomes mas pelo menos sejam consistentes! 

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