"A Letra Encarnada" de Nathaniel Hawthorne [Opinião Literária]
Sinopse:
O ambiente, asfixiante de puritanismo, duma
colónia do Novo Mundo e, nele, o drama de um amor taxado de pecaminoso pelo
convencionalismo da sociedade.
O drama do amor entre um homem e uma mulher –
uma mulher corajosa e um homem frouxo: enquanto ela enfrenta o opróbrio a que a
votam, ele, «piedoso» ministro da religião, acoberta-se na respeitabilidade de
uma fachada irrepreensível, a esconder o drama profundo duma consciência
torturada pelo remorso.
Um livro forte e pungente, um dos mais
poderosos romances da literatura americana do séc. XIX e ao qual Nathaniel
Hawthorne deve a sua consagração como escritor com assento entre os grandes
nomes da literatura universal.
Opinião:
Assente em
Boston, Massachusetts, durante os anos de 1642 a 1649, esta obra narra a
estória de Hester Prynne, uma mulher que comete adultério, do qual resulta uma filha,
Pearl, e a necessidade de viver a sua vida em penitência constante – com a
letra “A” bordada no peito. Considerado um clássico, este livro explora as
temáticas da culpa, do pecado e da vingança, retratando as raízes da história
americana e a perceção dos direitos da mulher na época.
Embora
compreenda a importância de uma estória como esta na altura em que foi construída,
esta já não é atual, nem relevante. As lições que o autor apregoa já não são
fundamentais para a sociedade de hoje e este livro não acrescentou muito de
valor à minha visão do mundo. Para mim, é esta a função principal de um
clássico: passar uma mensagem que é ao mesmo tempo pertinente, universal e atual,
qualquer que seja a sua data de edição. Isto não acontece nesta obra, na medida
em que a estória aborda questões que já nem se levantam hoje em dia.
Ainda que as
atitudes de Hester Prynne possam ser consideradas imorais em determinadas partes
do mundo atual, a sua penitência seria bem maior, enquanto na sociedade
ocidental não se poria sequer em questão este castigo. Por conseguinte, a
própria premissa da estória não é aplicável.
De igual
modo, o grande problema desta obra é o seu foco na religião, em detrimento do
aspeto social da penitência de Hester. É difícil sentir empatia pelo sacrifício
de Hester quando a sua única dificuldade é o perdão de Deus. A sua reputação
manchada não pareceu afetar a sua vida sobejamente e a maioria dos membros da
comunidade continuaram a socializar com Hester, apesar do estigma da letra “A”
no peito. Para quem, como eu, não é religioso, torna-se complicado criar
empatia com uma personagem cujos problemas não são problemas concretos.
No entanto,
apreciei Hester enquanto protagonista. Ela aprende a tomar as rédeas da sua
vida, a pensar por si própria (dentro dos limites da época, obviamente) e a refletir
acerca da origem do seu pecado. Apesar de carecer profundidade na sua personalidade
– como praticamente todas as personagens desta obra – gostei de observar a
forma como se liberta das convenções religiosas e cria o seu próprio código
moral.
O enredo é
bastante previsível, a identidade do pai de Pearl não é mistério nenhum e as
personagens limitam-se a representar as mulheres como vítimas da época e os
homens como vítimas da fraqueza do seu espírito. A escrita é densa, penosamente
descritiva e nada apelativa, o que a tornou numa leitura difícil e morosa.
No fundo,
esperava muito mais desta obra. Queria que me emocionasse, que me fizesse
refletir sobre algo para além da minha perceção da vida. Pelo contrário,
deixou-me indiferente e a indagar sobre a sua classificação como clássico da
literatura.
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