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terça-feira, 3 de setembro de 2013

"A Letra Encarnada" de Nathaniel Hawthorne [Opinião Literária]






Título: A Letra Encarnada
Autor: Nathaniel Hawthorne
Editora: Dom Quixote





Sinopse:
O ambiente, asfixiante de puritanismo, duma colónia do Novo Mundo e, nele, o drama de um amor taxado de pecaminoso pelo convencionalismo da sociedade.
O drama do amor entre um homem e uma mulher – uma mulher corajosa e um homem frouxo: enquanto ela enfrenta o opróbrio a que a votam, ele, «piedoso» ministro da religião, acoberta-se na respeitabilidade de uma fachada irrepreensível, a esconder o drama profundo duma consciência torturada pelo remorso.
Um livro forte e pungente, um dos mais poderosos romances da literatura americana do séc. XIX e ao qual Nathaniel Hawthorne deve a sua consagração como escritor com assento entre os grandes nomes da literatura universal.

Opinião:
Assente em Boston, Massachusetts, durante os anos de 1642 a 1649, esta obra narra a estória de Hester Prynne, uma mulher que comete adultério, do qual resulta uma filha, Pearl, e a necessidade de viver a sua vida em penitência constante – com a letra “A” bordada no peito. Considerado um clássico, este livro explora as temáticas da culpa, do pecado e da vingança, retratando as raízes da história americana e a perceção dos direitos da mulher na época.
Embora compreenda a importância de uma estória como esta na altura em que foi construída, esta já não é atual, nem relevante. As lições que o autor apregoa já não são fundamentais para a sociedade de hoje e este livro não acrescentou muito de valor à minha visão do mundo. Para mim, é esta a função principal de um clássico: passar uma mensagem que é ao mesmo tempo pertinente, universal e atual, qualquer que seja a sua data de edição. Isto não acontece nesta obra, na medida em que a estória aborda questões que já nem se levantam hoje em dia.
Ainda que as atitudes de Hester Prynne possam ser consideradas imorais em determinadas partes do mundo atual, a sua penitência seria bem maior, enquanto na sociedade ocidental não se poria sequer em questão este castigo. Por conseguinte, a própria premissa da estória não é aplicável.   
De igual modo, o grande problema desta obra é o seu foco na religião, em detrimento do aspeto social da penitência de Hester. É difícil sentir empatia pelo sacrifício de Hester quando a sua única dificuldade é o perdão de Deus. A sua reputação manchada não pareceu afetar a sua vida sobejamente e a maioria dos membros da comunidade continuaram a socializar com Hester, apesar do estigma da letra “A” no peito. Para quem, como eu, não é religioso, torna-se complicado criar empatia com uma personagem cujos problemas não são problemas concretos.
No entanto, apreciei Hester enquanto protagonista. Ela aprende a tomar as rédeas da sua vida, a pensar por si própria (dentro dos limites da época, obviamente) e a refletir acerca da origem do seu pecado. Apesar de carecer profundidade na sua personalidade – como praticamente todas as personagens desta obra – gostei de observar a forma como se liberta das convenções religiosas e cria o seu próprio código moral.
O enredo é bastante previsível, a identidade do pai de Pearl não é mistério nenhum e as personagens limitam-se a representar as mulheres como vítimas da época e os homens como vítimas da fraqueza do seu espírito. A escrita é densa, penosamente descritiva e nada apelativa, o que a tornou numa leitura difícil e morosa.
No fundo, esperava muito mais desta obra. Queria que me emocionasse, que me fizesse refletir sobre algo para além da minha perceção da vida. Pelo contrário, deixou-me indiferente e a indagar sobre a sua classificação como clássico da literatura. 

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