"O Jogo Final" de Orson Scott Card [Opinião Literária]
Autor: Orson Scott
Card
Editora: Editorial
Presença
Coleção: Ender (nº1)
Sinopse:
O Jogo Final é uma obra soberba que tem como
protagonista Ender Wiggin, um rapazinho de seis anos de idade em quem o governo
da Terra deposita todas as esperanças. No espaço interplanetário, um exército
extraterrestre de insectóides ameaça aniquilar para sempre a humanidade.
Desesperados, os homens desenvolvem um programa de defesa que consiste no
treino intensivo de crianças sobredotadas com vista a torná-las verdadeiros
génios militares. Ender é um génio entre os génios, o único que pode garantir a
sobrevivência da grande família humana. Mas será Ender suficientemente forte
para se salvar a si próprio do precipício da loucura? Um livro empolgante, que
nos fala da força e da fragilidade da condição humana.
Opinião:
Como um dos
clássicos mais prestigiados na área da ficção científica, O Jogo Final foi uma surpresa extraordinária em termos de conteúdo,
na medida em que, se pensarmos no ano em que foi escrito (1985), ficamos
embasbacados com a criatividade do autor em imaginar tecnologias e aplicativos que
hoje são similarmente utilizados.
Acredito que
será uma leitura extremamente aliciante para uma faixa etária mais jovem, pelos
ideais de amizade e companheirismo que a estória acarreta, pela sua escrita
simples e fluída, assim como pelas excitantes descrições dos jogos virtuais e
das batalhas no espaço. No entanto, confesso que, para mim, a partir de um
certo ponto na narrativa tornou-se cansativo ler sobre os mesmos treinos, jogos
e batalhas de sempre. A estrutura é demasiado cíclica, torna-se um pouco lento,
o que arrasta o ritmo da leitura.
Porém, a
melhor parte deste livro é, na minha opinião, o facto de o leitor se encontrar,
tal como o jovem Ender, às escuras acerca do que realmente se encontra por
detrás da fachada militar desta Escola de Guerra. O autor vai deixando pelo
caminho algumas pistas, desenvolvendo de forma brilhante o suspense até à surpreendente revelação final. Ao ter acesso à
perspetiva direta de Ender, o leitor consegue facilmente criar empatia com esta
personagem, na medida em que ecoa toda a sua insegurança, raiva e
vulnerabilidade.
Contudo, apesar
do conteúdo desta obra me ter encantado, a execução apresentou algumas falhas,
como a superficialidade das personagens. Acabei por não criar qualquer empatia
com nenhuma delas, salvo talvez Ender e Valentine, principalmente porque o
autor estabelece uma divisão demasiado linear entre os “bons” e os “maus da
fita”. Faltam-lhes substância, conflitos internos, motivações! Mesmo Ender, o
protagonista, torna-se aborrecido na sua perfeição. É um génio, ganha todas as batalhas
e é sempre menosprezado pelos seus colegas que apenas têm inveja do seu sucesso.
Por um lado, creio que a abordagem do bullying
é um aspeto fulcral quando estamos perante personagens nesta faixa etária, mas
neste livro é levado até ao extremo.
Outro aspeto
que me incomodou desde o início tem a ver com a idade das personagens jovens.
Ender é recrutado com 6 anos (sim, leram bem) para
a Escola de Guerra. Os diálogos e as ações de Ender com esta idade são
demasiado maduros e desenvolvidos para esta fase. Eu percebo que no género de
ficção científica haja espaço para estes aspetos mais fantasiosos e irrealistas,
mas confesso que prejudicou a minha ligação com a estória (passei
o livro inteiro a imaginar Ender e quase todas as personagens como
adolescentes).
Não é de
todo um livro mau, mas também não o considerei excecional. Talvez por ter
criado altas expectativas, no final fiquei com a horrível sensação de que
esperava algo mais…
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