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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

"O Jogo Final" de Orson Scott Card [Opinião Literária]




Título: O Jogo Final
Autor: Orson Scott Card
Editora: Editorial Presença
Coleção: Ender (nº1)






Sinopse:

O Jogo Final é uma obra soberba que tem como protagonista Ender Wiggin, um rapazinho de seis anos de idade em quem o governo da Terra deposita todas as esperanças. No espaço interplanetário, um exército extraterrestre de insectóides ameaça aniquilar para sempre a humanidade. Desesperados, os homens desenvolvem um programa de defesa que consiste no treino intensivo de crianças sobredotadas com vista a torná-las verdadeiros génios militares. Ender é um génio entre os génios, o único que pode garantir a sobrevivência da grande família humana. Mas será Ender suficientemente forte para se salvar a si próprio do precipício da loucura? Um livro empolgante, que nos fala da força e da fragilidade da condição humana. 

Opinião:

Como um dos clássicos mais prestigiados na área da ficção científica, O Jogo Final foi uma surpresa extraordinária em termos de conteúdo, na medida em que, se pensarmos no ano em que foi escrito (1985), ficamos embasbacados com a criatividade do autor em imaginar tecnologias e aplicativos que hoje são similarmente utilizados.

Acredito que será uma leitura extremamente aliciante para uma faixa etária mais jovem, pelos ideais de amizade e companheirismo que a estória acarreta, pela sua escrita simples e fluída, assim como pelas excitantes descrições dos jogos virtuais e das batalhas no espaço. No entanto, confesso que, para mim, a partir de um certo ponto na narrativa tornou-se cansativo ler sobre os mesmos treinos, jogos e batalhas de sempre. A estrutura é demasiado cíclica, torna-se um pouco lento, o que arrasta o ritmo da leitura.

Porém, a melhor parte deste livro é, na minha opinião, o facto de o leitor se encontrar, tal como o jovem Ender, às escuras acerca do que realmente se encontra por detrás da fachada militar desta Escola de Guerra. O autor vai deixando pelo caminho algumas pistas, desenvolvendo de forma brilhante o suspense até à surpreendente revelação final. Ao ter acesso à perspetiva direta de Ender, o leitor consegue facilmente criar empatia com esta personagem, na medida em que ecoa toda a sua insegurança, raiva e vulnerabilidade.

Contudo, apesar do conteúdo desta obra me ter encantado, a execução apresentou algumas falhas, como a superficialidade das personagens. Acabei por não criar qualquer empatia com nenhuma delas, salvo talvez Ender e Valentine, principalmente porque o autor estabelece uma divisão demasiado linear entre os “bons” e os “maus da fita”. Faltam-lhes substância, conflitos internos, motivações! Mesmo Ender, o protagonista, torna-se aborrecido na sua perfeição. É um génio, ganha todas as batalhas e é sempre menosprezado pelos seus colegas que apenas têm inveja do seu sucesso. Por um lado, creio que a abordagem do bullying é um aspeto fulcral quando estamos perante personagens nesta faixa etária, mas neste livro é levado até ao extremo.

Outro aspeto que me incomodou desde o início tem a ver com a idade das personagens jovens. Ender é recrutado com 6 anos (sim, leram bem) para a Escola de Guerra. Os diálogos e as ações de Ender com esta idade são demasiado maduros e desenvolvidos para esta fase. Eu percebo que no género de ficção científica haja espaço para estes aspetos mais fantasiosos e irrealistas, mas confesso que prejudicou a minha ligação com a estória (passei o livro inteiro a imaginar Ender e quase todas as personagens como adolescentes).

Não é de todo um livro mau, mas também não o considerei excecional. Talvez por ter criado altas expectativas, no final fiquei com a horrível sensação de que esperava algo mais…

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