"Morte Num País Estranho" de Donna Leon [Opinião Literária]
Título: Morte Num País Estranho
Autora: Donna Leon
Editora: Planeta
Coleção: Série Comissario
Brunetti (nº2)
Sinopse:
Um dia de manhã cedo, Guido Brunetti,
Commissario da Polícia de Veneza, é confrontado com uma visão horrenda, quando
o corpo de um jovem é tirado de um fétido canal veneziano. Todas as pistas
apontam para um assalto violento, mas, para Brunetti, o roubo parece um móbil demasiado
conveniente. Em seguida, algo muito incriminatório é descoberto no apartamento
do morto – algo que aponta para a existência de uma cabala de alto nível – e
Brunetti convence-se de que alguém, algures, se está a esforçar muito para
fornecer uma solução já pronta para o crime…
Opinião:
Este é o segundo
volume protagonizado por Guido Brunetti, um comissário da polícia veneziana cuja
vida não poderia ser mais vulgar, mas cujo intelecto e paixão pela profissão
superam qualquer outra personagem num policial. Desta vez é incumbido de investigar
um caso – a morte de um militar americano – mas este aparentemente já se
encontra solucionado por ordens superiores. Os membros influentes e poderosos
da sociedade italiana unem-se num jogo de intriga, segredos, conspirações e
manipulação de provas onde um homem honesto como Guido terá dificuldade em trabalhar
– e sobreviver…
As temáticas
desta obra são bem mais profundas do que esperava à primeira vista. Donna Leon
aborda questões bastante atuais, com especial destaque para a poluição
ambiental e o depósito ilegal de resíduos tóxicos. Este é um cenário que,
infelizmente, não é meramente ficcional. A eliminação destes produtos tóxicos
em países do terceiro mundo gera grandes lucros para alguns indivíduos e é
frequentemente ignorada pelos países ocidentais. Citando Donna Leon: “Embora cientes daquilo que estamos a fazer,
não hesitamos em destruir o nosso futuro (…) Somos uma nação de gente egoísta. É
a nossa coroa de glória, contudo, essa atitude será a nossa destruição, uma vez
que nenhum de nós tem capacidade para se consciencializar de que devemos
preocupar-nos com qualquer coisa de tão abstrato como «o bem-estar comum».”.
Escrita há uma década atrás, esta citação ainda se encontra assustadoramente
verdadeira na sociedade moderna.
No entanto,
ainda que extremamente interessante, a abordagem destas questões perturbou o
ritmo da narrativa. Em vez de uma leitura frenética, tornou-se algo aborrecida,
pontuado por breves momentos de maior intensidade ou humor. O foco da estória
distanciou-se rapidamente da resolução dos crimes para uma análise sociopolítica
da Europa e dos Estados Unidos da América. Não encontrei aqui o policial que
esperava e nem o desenlace final foi satisfatório, pois deixou algumas questões
em aberto.
Ainda assim,
o retrato de Veneza – o cenário desta estória – é imperdível. Todos os seus
recantos são explorados com a beleza e romantismo que associamos a esta cidade.
A própria escrita da autora é muito reconfortante, sem detalhes gráficos ou
violentos. Esta familiaridade e ternura são acentuadas pelo retrato da vida
familiar de Guido, explorando de uma forma realista a vida de uma família no
seio da sociedade mediterrânea. Esta não é uma obra absolutamente viciante, mas
foi uma leitura cómoda e fácil, ideal para uma tarde de Verão.
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