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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

"Morte Num País Estranho" de Donna Leon [Opinião Literária]

Título: Morte Num País Estranho
Autora: Donna Leon
Editora: Planeta
Coleção: Série Comissario Brunetti (nº2)

Sinopse:
Um dia de manhã cedo, Guido Brunetti, Commissario da Polícia de Veneza, é confrontado com uma visão horrenda, quando o corpo de um jovem é tirado de um fétido canal veneziano. Todas as pistas apontam para um assalto violento, mas, para Brunetti, o roubo parece um móbil demasiado conveniente. Em seguida, algo muito incriminatório é descoberto no apartamento do morto – algo que aponta para a existência de uma cabala de alto nível – e Brunetti convence-se de que alguém, algures, se está a esforçar muito para fornecer uma solução já pronta para o crime…

Opinião:
Este é o segundo volume protagonizado por Guido Brunetti, um comissário da polícia veneziana cuja vida não poderia ser mais vulgar, mas cujo intelecto e paixão pela profissão superam qualquer outra personagem num policial. Desta vez é incumbido de investigar um caso – a morte de um militar americano – mas este aparentemente já se encontra solucionado por ordens superiores. Os membros influentes e poderosos da sociedade italiana unem-se num jogo de intriga, segredos, conspirações e manipulação de provas onde um homem honesto como Guido terá dificuldade em trabalhar – e sobreviver…
As temáticas desta obra são bem mais profundas do que esperava à primeira vista. Donna Leon aborda questões bastante atuais, com especial destaque para a poluição ambiental e o depósito ilegal de resíduos tóxicos. Este é um cenário que, infelizmente, não é meramente ficcional. A eliminação destes produtos tóxicos em países do terceiro mundo gera grandes lucros para alguns indivíduos e é frequentemente ignorada pelos países ocidentais. Citando Donna Leon: “Embora cientes daquilo que estamos a fazer, não hesitamos em destruir o nosso futuro (…) Somos uma nação de gente egoísta. É a nossa coroa de glória, contudo, essa atitude será a nossa destruição, uma vez que nenhum de nós tem capacidade para se consciencializar de que devemos preocupar-nos com qualquer coisa de tão abstrato como «o bem-estar comum».”. Escrita há uma década atrás, esta citação ainda se encontra assustadoramente verdadeira na sociedade moderna.
No entanto, ainda que extremamente interessante, a abordagem destas questões perturbou o ritmo da narrativa. Em vez de uma leitura frenética, tornou-se algo aborrecida, pontuado por breves momentos de maior intensidade ou humor. O foco da estória distanciou-se rapidamente da resolução dos crimes para uma análise sociopolítica da Europa e dos Estados Unidos da América. Não encontrei aqui o policial que esperava e nem o desenlace final foi satisfatório, pois deixou algumas questões em aberto.
Ainda assim, o retrato de Veneza – o cenário desta estória – é imperdível. Todos os seus recantos são explorados com a beleza e romantismo que associamos a esta cidade. A própria escrita da autora é muito reconfortante, sem detalhes gráficos ou violentos. Esta familiaridade e ternura são acentuadas pelo retrato da vida familiar de Guido, explorando de uma forma realista a vida de uma família no seio da sociedade mediterrânea. Esta não é uma obra absolutamente viciante, mas foi uma leitura cómoda e fácil, ideal para uma tarde de Verão.

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